Delegada de Arroio do Tigre revela detalhes da Operação Tropilha

Servidor de Arroio do Tigre inseria dados falsos para emitir (GTAs) fraudulentas
Foto - Arquivo Rádio Sobradinho

A Polícia Civil deflagrou, na manhã desta terça-feira (09), uma operação para desarticular um esquema que fraudava a documentação de cerca de 13 mil cavalos e 800 cabeças de gado sem procedência nos últimos 17 anos. Os animais recebiam registros falsos que permitiam a comercialização irregular, principalmente para frigoríficos em São Gabriel.

Em entrevista à Rádio Sobradinho AM, a delegada responsável pela investigação, Graciela Foresti Chagas, explicou que o grupo é composto por um servidor público da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Produção Sustentável (SEAPI) de Arroio do Tigre, que inseria dados falsos no sistema oficial para emitir Guias de Trânsito Animal (GTAs) fraudulentas. Também são investigados um advogado de Santa Maria, seu filho — um dos destinatários dos animais — e um funcionário responsável pelo transporte, residente em Júlio de Castilhos.

A investigação começou há mais de um ano e meio, após produtores rurais notarem irregularidades em seus registros. Segundo a delegada, há indícios de que o esquema envolvia também animais contrabandeados de países vizinhos, como o Uruguai, e que outros servidores estaduais podem estar envolvidos, sem especificar setores.

Graciela Foresti Chagas ressaltou que não há evidências que liguem os frigoríficos às fraudes. O servidor público da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Arroio do Tigre chegou a ser preso por ameaçar testemunhas, mas foi liberado e aguarda os próximos passos da investigação, que deve ser concluída nos próximos meses com análise de novos documentos apreendidos.

O esquema fraudulento consistia na criação de “saldos fictícios” de animais, como reativar registros de animais mortos e multiplicar rebanhos inexistentes, para justificar a emissão irregular das guias de transporte. A fraude permitia a venda e o abate de animais sem origem comprovada, com indícios também de falsificação de exames sanitários, o que compromete a qualidade da carne destinada ao consumo.

Após as primeiras denúncias em 2023, o servidor teve seu acesso ao sistema bloqueado, mas continuou agindo com credenciais de terceiros até ser afastado. A Secretaria da Agricultura instaurou processo administrativo e orientou os produtores prejudicados a formalizar denúncias junto à Polícia Civil.

Na operação desta terça, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em propriedades e residências em várias cidades. Cerca de 150 produtores rurais foram usados como “laranjas”, com seus registros utilizados sem autorização para emissão das documentações fraudulentas — cerca de 100 deles da região Centro Serra.

A ação contou com apoio das Polícias Civis de Pelotas, Júlio de Castilhos, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, Sobradinho, além da SEAPI. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanhou as diligências relacionadas ao advogado investigado.

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